terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Trilhos dos Abutres 2015



Esta prova foi difícil desde a inscrição, depois da maratona do Porto, estivemos até às duas da manhã a tentar fazer a inscrição. Lá conseguimos, depois foi tentar fazer uma boa preparação e esperar pelo grande dia.
A preparação nunca é a que nós queremos, mas o tempo não pára e o fim de semana da prova chegou.
Fomos de véspera e logo se viu que a prova ia ser "molhada". Aproveitámos para levantar os dorsais e falar com alguns atletas conhecidos, que nos avisaram das dificuldades que íamos encontrar, muita lama e muitos cursos de água para atravessar.
Durante a madrugada, deu para perceber que a situação ainda ia ficar pior, a chuva e o vento não pararam. Como estaria a manhã?
De manhã não chovia, mas de certeza que o piso estava muito mau.
A caminho do pequeno almoço, recebo um sms da organização a informar que a partida havia sido adiada para as 10 horas. Não era um bom sinal.


Fomos cedo para o pavilhão, encontrámos alguns amigos que nos puseram ao corrente das últimas sobre a prova. O adiamento foi para a organização dar uma vista de olhos ao percurso e fazer algumas alterações, o temporal tinha feito alguns estragos.


Fizemos o controle zero e aguardámos a partida. Fomos ouvindo alguns atletas a falar sobre o que poderia ser a sua prestação nesta prova, lembro-me de um atleta a dizer a uma colega que conseguiriam acabar com 8 horas. Ela não estava a acreditar muito, mas ele achava que sim. Estavam bem equipados e tinham um "aspecto" de quem corria bem:)
Eu e a minha Isa, também falávamos sobre a prova, o nosso medo eram os tempos limite. Em primeiro lugar, só queríamos chegar aos 29 km dentro das 5h30. Mas sabíamos que tínhamos de dar o máximo e mesmo assim seria muito difícil. Depois logo se via o que poderia acontecer.
É dada a partida, não chove e a temperatura está bastante suportável.



Os primeiros 5 km são feitos dentro de Miranda do Corvo, a média é muito boa, ficámos um pouco mais confiantes para o resto da prova.
De seguida entramos no Parque Biológico da Serra da Lousã, onde encontramos as primeiras lamas. Começámos a subir e a ficar com calor, tivemos que tirar os impermeáveis e guardá-los na mochila. É verdade, nesta altura estávamos com calor.



Mas passado pouco tempo, começou a chover e toca toda a vestir os impermeáveis novamente. A chuva era o que me metia mais respeito nesta prova, não queria andar tantas horas molhado. Mas os últimos dias davam a entender que não se podia fugir dela.
Meus amigos, a partida já tinha sido dada, mas só agora é que os Trilhos dos Abutres iam começar.
Era lama por todo o lado, mas lama a sério, não era a lama de Bucelas (para quem lá esteve em 2014). A chuva tinha feito estragos durante a noite, havia muita água no percurso e qualquer passo era para nos atolarmos. Os pés começavam a ficar gelados.
Nunca corremos nestas condições, por esta altura ainda achávamos graça à situação, estava a ser complicado, mas continuávamos na luta.
As mãos estavam sempre sujas de lama, havia muitas zonas para trepar, tinha que se agarrar uma raiz, um ramo, qualquer coisa que ajudasse a subir e a não escorregar por ali abaixo.
Entretanto, começaram a aparecer os primeiros atletas da prova mais pequena, não gosto nada disto. Os tipos correm muito depressa e temos que nos encostar para os deixar passar, assim como é que conseguimos chegar dentro do tempo limite?:)
Nesta prova, fartei-me de ir com o rabo ao chão, um tipo tenta ter o maior cuidado possível, mas quando menos espera...pumba, já está com a dignidade em baixo:) Felizmente, foi tudo quedas sem grandes consequências. A Isa aguentou-se muito bem, não me lembro que tenha sujado os calções com alguma queda.
Os km iam passando, quando de repente cai uma carga de GRANIZO, era gelado e doía como o caraças quando nos atingia. Passado pouco tempo, começa a trovejar, bonito, sozinhos no meio da serra, molhados e a ser agredidos com pedregulhos. A coisa prometia.
O primeiro abastecimento foi aos 14 km, muito tarde! Não percebo o porquê desta situação.
Mas ao menos, estavam bem fornecidos. Deu para recuperar um pouco do esforço, pois o que se seguiu foi muito pior.
As subidas eram muito acentuadas, a lama estava cada vez pior, mas o que começava a atrapalhar mais era o frio. A lama atrapalhava, mas a gente lá ia conseguindo ultrapassar todos os obstáculos. Não muito rápidos, é verdade, mas estávamos a avançar no terreno.
Agora, com a chuva e granizo (caiu uma segunda vez), com muitos ribeiros para atravessar e molhar os pés...a temperatura dos nossos corpos estava a baixar a um ritmo alarmante.
Tinha começado pelos pés, estiveram molhados durante toda a prova, mas sempre que se conseguia correr, a coisa melhorava um pouco. O pior foram as mãos, mesmo com luvas, estavam a ficar geladas para além do aconselhável. A determinada altura, a temperatura baixou tanto, que já estávamos a perder a sensibilidade nos dedos. Esta situação mete medo, queremos mexer os dedos e eles não respondem. A Isa teve a ideia de tirar as luvas e aquece-las com o bafo da boca. Em boa hora o fez, conseguiu que aquecessem um pouco. Eu, lá ia tentando abrir e fechar as mão, tinha que as pôr a mexer.
Só queríamos o próximo abastecimento, mais uma vez ele chegou muito tarde.
Quando estávamos a tentar tirar as luvas para comer qualquer coisa, um senhor pergunta se queríamos ir no autocarro, não percebemos bem, ao que ele nos informa que estão a barrar os atletas que não passem aos 29 km dentro do tempo limite. Estávamos no km 24 e já tínhamos ultrapassado esse tempo. Analisámos a situação e decidimos que mais valia ficarmos por ali, o frio ainda ia piorar (o percurso ainda subia mais) e de qualquer forma, íamos ser barrados aos 29 km. Tomámos a decisão mais sensata.
Quando chegámos ao autocarro é que nos apercebemos da dimensão dos estragos que o frio estava a causar. O autocarro estava cheio! Tudo enrolado nas mantas térmicas, fizemos o mesmo. A cada minuto que passava, mais convencidos ficávamos de que não havia outra atitude a tomar. A saúde em primeiro lugar.
Chegados ao pavilhão, não havia água quente para o banho!!!! Fomos tomar banho ao hotel e depois jantar.
Nessa altura começamos a tomar conhecimento do elevado número de atletas que foram barrados, quase trezentos não conseguiram passar dentro dos tempos limites, muitos deles, já com provas dadas.
Ainda passámos pelo pavilhão para ver a chegada dos atletas que iam conseguindo terminar a prova. Lembram-se daqueles atletas de que falei no inicio deste relato? Ele achava que conseguiam terminar em 8 horas? Concluíram a prova sim senhor, mas com mais de 10 horas de tempo final. Por aqui se vê que o pessoal não estava à espera de tamanhas dificuldades.
Tivemos azar com o tempo, a partida teve de ser adiada duas horas, o piso ficou terrível , andámos sempre molhados e o frio foi forte demais.
A organização esteve bem ao barrar os atletas, naquelas condições podia acontecer uma tragédia.
Mas não esteve tão bem na questão dos abastecimentos, devia haver mais e não tão espaçados.
Também acho que devia haver pessoas nos locais considerados mais perigosos, não vimos ninguém. Haviam alguns jovens em certos sítios, mas não sabiam dar nenhuma informação, nomeadamente a distância para os abastecimentos.
Com aquele tempo não haver água quente para os banhos?!!! Já fiz provas menos conceituadas e todas elas tinham água quente para os banhos.
Este foi um ano muito complicado para se organizar esta prova, para o ano tudo vai correr melhor, tenho a certeza.

Esta prova foi muito importante para mim e para a Isa, vivemos experiências extremas que nos vão ajudar muito no futuro. E vivemos essas experiências juntos! Passámos por todas aquelas dificuldades juntos! Não queria que fosse de outra forma!
Para 2016, contamos estar em Miranda do Corvo novamente, mais bem preparados e com melhores condições atmosféricas, de certeza que vamos terminar esse grande desafio que são os Trilhos dos Abutres.

No dia seguinte, foi dia de passeio, um dia para descontrair na companhia da minha Isa.
(Não há muitas fotos da prova, mas há dos passeios)

Parque Biológico da Serra da Lousã

 

 
 





 
 
Gondramaz



E ainda deu para fazer o reconhecimento do nosso próximo trail:)






Boas corridas para todos!

10 comentários:

  1. Sim senhor! Grande relato! :)
    Foi uma grande aventura! A nossa maior até hoje, apesar da curta distância percorrida por nós. Ganhámos experiência e aprendemos muito, valeu a pena!
    No próximo ano lá estaremos para a vingança!

    Foi mais um fim-de-semana excelente na tua companhia.
    E agora segue-se a nossa maior aventura em distância até à data e VAMOS CONSEGUIR!

    Beijos ultra gigantes

    p.s. O Iggy Pop ficou mesmo bem na foto eheheheh ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Isa linda!
      Sabes que não chego aos teus calcanhares:)
      Ganhámos experiência que vai ser muito útil no futuro. É claro que lá estaremos para terminar com um bom tempo. O fim de semana foi excelente!
      O fim de semana do nosso próximo grande desafio também vai ser excelente!
      Mas desta vez vamos conseguir terminar! Ai vamos vamos!

      Beijos ultra gigantes

      Eliminar
  2. Foi uma prova já de si dura, e em condições piores. Ficou a aprendizagem e para o ano fica a revenge! :D
    Boa sorte para Sicó!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Rute!
      Sem dúvida que, apesar de tudo, aprendemos muito nesta prova. E claro que para o ano estaremos lá para terminar a prova!

      Beijinhos

      Eliminar
  3. Relato que espelha bem o duro que foi essa prova e onde foram, novamente, corajosamente heróis.
    Para o ano, os Abutres que se cuidem :)))

    Lindo esse cavalo Iggy Pop! E o lince??? É mesmo um gato em tamanho XXXL!

    Um abraço e, uma vez mais, parabéns por tudo o que fizeram nos Abutres. São uns heróis!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado João!

      Para o ano é a vingança:)
      Gostámos muito do Parque Biológico da Serra da Lousã, também ias gostar.
      Não parece mesmo o Iggy Pop?:)

      Abraço

      Eliminar
  4. Grande Vitor, corajoso como todos os outros que ousaram enfrentar os Abutres deste ano. Sem dúvida que foi uma grande aprendizagem, que vos vai ser muito útil em futuras aventuras.
    Grande abraço e força em Sicó

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado Carlos!

      Estamos sempre a aprender, nos Abutres aprendemos muito.
      Em Sicó a história tem de ser outra:)

      Abraço

      Eliminar
  5. Marcelo Dias22/02/15, 17:44

    Vitor, não acabaram mas tiveram a coragem de começar. Para o ano a Lousã está lá outra vez, não sei se com melhores condições, mas vocês estarão mais bem preparados com certeza. O saber o que nos espera nos Abutres torna as coisas mais fáceis. Apesar de este ano as condições estarem mais duras do que o ano passado e há 2 anos, acabei por fazer a prova com mais facilidade e em menor tempo, exactamente porque já sabia o que me esperava.
    Para a semana encontramo-nos então pelo Sicó :)
    Abraços e bons treinos.
    Marcelo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É isso Marcelo, para o ano lá estaremos e mais bem preparados!
      Ficámos mais experientes, aprendemos muito nesta prova.
      Parabéns pela tua grande prova!
      Vemo-nos então no Sicó!

      Abraço

      Eliminar